sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

O pequeno doador de esperanças

        Já era tarde da noite, estava tudo muito quieto e escuro naquela praia. Aylan estava com sono e pedia para que sua mãe o colocasse para dormir. Ela o acalmava, sussurrando que, assim que entrassem no barco, ele poderia descansar.
      O menino não entendia o que estavam fazendo, àquela hora, no litoral. Ele ouvira conversas de seus pais sobre uma fuga clandestina, mas não sabia o que isso significava. “Aonde estamos indo, mamãe?” indagou o pequeno, enquanto caminhavam em direção ao mar. “A um lugar em que não há bombas, nem guerra, nem violência” respondeu a mãe.
Aylan, seus pais e seu irmão entraram em um pequeno barco, que também carregava outras famílias. Logo que começaram a viagem, o garotinho adormeceu. Sonhou com as palavras de sua mãe: Um lugar bonito e tranquilo, sem barulhos que o acordassem durante a noite, sem fome, sem dor.
      No entanto, seu sono durou pouco. Sentiu suas roupas molharem, ouviu gritos de desespero. Tudo aconteceu de repente – o barco começou a inundar, as pessoas ficaram apavoradas e todos afundaram no oceano. Seu pai o agarrou, junto com os outros membros da família, mas Aylan escorregou de seus braços, submergindo completamente.
Quanto mais se debatia, mais afundava – e o garotinho não sabia mais o que fazer. Perdido e quase sem forças, o pequeno entregou-se de vez ao oceano. Ele sentia a água adentrando seus pulmões, percebia sua visão perdendo a nitidez. Foi quando avistou, na superfície, um lugar exatamente como o que sua mãe descreveu. Muito bonito, sem guerras ou violência. Ouviu o som de crianças brincando e desejou juntar-se a elas. Sua mãe, segurando o irmão no colo, apareceu ao seu lado, estendendo a mão para o filho. Juntos, nadaram em direção àquele mundo perfeito.
        Alguns dias depois, o corpo do garotinho foi encontrado por policiais em uma praia. O mundo todo ficou comovido com sua morte. Mas ninguém podia imaginar as coisas lindas que ele vira, e a felicidade que sentira ao perceber que, finalmente, havia encontrado a paz que tanto desejou.

                                                                  Releitura do conto de fadas A Pequena Vendedora de Fósforos, de Hans Christian Andersen.

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